Fonte: SuperHiper - edição abril de 2009
Setor consegue o que para muitos parecia impossível: crescer mais em 2008 do que já havia crescido em 2007. Deflacionado, seu faturamento cresceu 10,5% no ano. Contudo, suas vendas são apenas a ponta do iceberg. A 32a edição do Ranking Abras traz tudo o que está por baixo desse expressivo desempenho
Se o ano de 2009 ainda é uma incógnita para a economia brasileira e para o setor supermercadista, não há dúvidas de que o ano de 2008 deixou saudades, sobretudo para os supermercados, cujo incremento, apesar da eclosão da crise no último trimestre, foi de 16,3% nas vendas nominais e de 10,5% nas vendas reais. O fato é que depois de em 2007 o setor apresentar a maior expansão dos últimos 12 anos, crescimento de 6% no faturamento real e de 9,8% nominal, no ano passado ele conseguiu desempenho ainda mais expressivo.
“O estudo reflete bem os avanços obtidos pelo setor em 2008, que foi sem dúvida um grande ano para o varejo brasileiro”, diz o presidente da Abras, Sussumu Honda. Entre outras coisas, vale lembrar que a participação do autosserviço no Produto Interno Bruto (PIB) cresceu mais de 0,3 ponto percentual, voltando aos patamares de 2005, quando respondia por 5,5% do PIB, que em 2008 teve expansão significativa de 5,1%. Dessa forma, em valores absolutos, o País gerou R$ 2,9 trilhões em riquezas no último ano, sendo o autosserviço responsável por quase R$ 160 bilhões.
Em um momento conturbado como o vivido pela economia mundial e em virtude do qual as expectativas para este ano não são nada animadoras, o tradicional Ranking Abras vem na contramão do negativismo e, de certa maneira, serve de alento e argumento para os que acreditam que a crise será bem menos danosa do que se pensa. Afinal, os próprios números do setor nos primeiros meses de 2009 corroboram o discurso dos que creem no crescimento da economia nacional, embora não nos mesmos níveis de 2008 e tão-pouco de 2007.
Os investimentos das empresas do setor para este ano, além da materialização dos investimentos feitos no ano passado, o que se poderá constatar pelo número de empregos gerados, de lojas abertas e outros dados aferidos ao longo de 2008, também mostram a confiança do empresário do setor no Brasil, o que não se dá apenas quando a fase é boa, como em 2007 e 2008, mas também em épocas de “vacas magras”, o que aconteceu, por exemplo, em 2003, quando o setor perdeu vendas, e, de certa maneira, em 2005 e 2006, período de bom crescimento do PIB, mas de desempenhos pífios do setor.
Números do autosserviço
Em relação a 2007, todos os indicadores básicos e absolutos, como faturamento, número de check-outs, de área de vendas, estabelecimentos e funcionários, cresceram em 2008, o que não deixa dúvidas sobre a pujança do setor no período, já que em 2007 os mesmos indicadores, com exceção da área de vendas, apresentaram expansão significativa em relação a 2006. Ou seja, se no ano retrasado o autosserviço apresentou o melhor desempenho dos últimos 12 anos, em 2008 conseguiu o melhor (na mais modesta das hipóteses) desempenho dos últimos 13 anos.
O número de lojas teve incremento de 1,5%, mais do que o verificado no ano passado, quando a quantidade de estabelecimentos de autosserviço apresentou expansão de 1,2%. Em valores absolutos, o setor ganhou 1,123 mil novas lojas em 2008, indo de 74,602 mil no ano anterior para 75,725 mil. “Esse é um número que vale ser enfatizado. Em outras economias, não se vê evolução semelhante do autosserviço. No Brasil, o setor continua a crescer”, diz o diretor de atendimento ao varejo da Nielsen, João Carlos Lazzarini.
Outro dado interessante diz respeito ao número de check-outs, que aumentou 2,7% do ano retrasado para o ano passado. Em 2007, eram 180,926 mil que passaram a ser 185,889 mil em 2008, numa clara demonstração de preocupação do setor com a prestação de serviço. Especialmente se considerarmos que a metragem quadrada da área de vendas ficou estagnada no mesmo período, com crescimento insignificante de 0,03% (de 18.789.993 metros quadrados em 2007 para 18.796.449 em 2008).
Essa disparidade se explica pela crescente demanda dos consumidores por lojas compactas e com bom nível de serviço, de modo a oferecer-lhes comodidade, praticidade e agilidade. Tal fenômeno tem se mostrado há alguns anos e cada vez ganha mais força, ainda mais depois que redes de médio e grande porte, caso da Coop (Cooperativa de Consumo) e do Grupo Pão de Açúcar, apostaram nos modelos de loja mais compactos, por meio das bandeiras Zapt Coop e Extra Fácil, respectivamente.
Além disso, têm-se visto muitos casos de lojas que reduzem sua área de vendas para aproveitá-las melhor, sem fazerem o mesmo proporcionalmente com os check-outs. Em outros casos, o supermercadista aluga parte da área para outro modelo de comércio complementar ao seu, como loja de construção ou de eletroeletrônicos. O Wal-Mart recentemente fez isso com uma de suas unidades em Santo André, Grande ABC paulista. “Um exemplo bastante visível de redução de metragem quadrada é o Carrefour, que transformou inúmeros hipermercados em supermercados Carrefour Bairro”, diz Lazzarini.
Justificativas
O expressivo crescimento das vendas do autosserviço se deve a inúmeros fatores. Deles, os investimentos do setor se destacam. Em 2008, foram declarados pelo setor investimentos de R$ 3,7 bilhões. A construção de lojas respondeu por 53% dessas cifras, numa clara mostra da confiança do setor na economia brasileira. Tal predomínio da construção de lojas sobre os investimentos deixou poucas fatias para os demais destinos, mas ainda assim é possível destacar a reforma de lojas, que teve 20,6% dos investimentos, e a aquisição de terrenos e lojas que, juntas, tiveram quase 10% das cifras investidas.
Para este ano, os investimentos previstos e declarados são menores que os realizados em 2009, mas uma característica histórica do dado de investimento é a realização superar, e muito, a previsão. Por isso, se comparado simplesmente aos investimentos feitos em 2008, os de 2009 não parecem tão altos. Porém, se considerarmos que o momento vivido é de crise e que a amostra (número e representatividade dos respondentes) de um ano para o outro diminuiu, os R$ 2,4 bilhões previstos pelo setor em investimentos para 2009 são realmente expressivos.
Outro fator que corrobora essa tese é o fato de o número de empresas que responderam qual foi o investimento realizado em 2008 ser maior do que o número das que disseram quanto investiram em 2009. Enquanto as que declaram o realizado de 2008 somam 330 companhias e respondem por pouco menos de 60% do faturamento do setor, ou seja, algo em torno de R$ 94,7 bilhões, as que responderam quanto preveem investir em 2009 contabilizam 253 empresas, que correspondem a R$ 67,5 bilhões, o equivalente a 42,6% da receita do varejo de autosserviço do País. Ou seja, não é nenhum disparate inferir que, se o mesmo número de empresas houvesse declarado seus investimentos neste ano, as cifras seriam ainda maiores, podendo ultrapassar R$ 4 bilhões. A inferência é mais cabível quando se considera a ausência dessa resposta na pesquisa de empresa que se encontra entre as três maiores do setor e cujos investimentos no País têm aumentado ano após ano. Embora a companhia não tenha respondido a essa questão da pesquisa, a gigante varejista já informou publicamente por meio de seus executivos que o Brasil é uma de suas praças prioritárias e que os investimentos neste ano chegarão a R$ 1,6 bilhão.
Quando se fala nos prováveis destinos dos investimentos, a construção de lojas mais uma vez desponta na frente e com sobra. Dos R$ 2,4 bilhões previstos para serem investidos em 2009, 43,7%, mais de R$ 1 bilhão, serão destinados à construção de novas unidades. Reforma, aquisição e ampliação de loja, a princípio, não terão tanta relevância quanto tiveram no realizado de 2008, respondendo por 9,6% da verba prevista para investimento em 2009. O grupo outros, que envolve áreas com Recursos Humanos (RH), atividades complementares e outras não-especificadas ganha (provavelmente pelo clima de incerteza que domina este início de ano) espaço e responde por 29,9% da verba de investimento.
Porém, voltando a 2008, as razões para o desempenho expressivo acima destacado não são apenas os altos investimentos dos supermercados em abertura de lojas, reforma e melhoria na prestação de serviço aos clientes em 2008. Apesar da crise, que já em setembro mostrava seus dentes e rosnava para as economias de todo o mundo, o Brasil foi um dos últimos países a sentir seus malefícios e o setor supermercadista, verdade seja dita, ainda não o sente na mesma intensidade que a maior parte dos outros ramos de atividade.
O fato é que, segundo Sussumu Honda, “o varejo alimentar geralmente é o último a entrar na festa, mas, tem uma vantagem, é o último a sair também”. “Festa” porque o último biênio foi mágico para a economia brasileira, com crescimento superior a 5% em cada um dos anos em questão. Isso porque os programas sociais, destacadamente o Bolsa Família, continuaram a incluir no mercado de consumo milhões de pessoas que antes estavam à margem (nos últimos seis anos, por volta de 13 milhões de pessoas foram incorporadas ao mercado de consumo).
Além disso, a atividade econômica acompanhou o ritmo dos programas sociais, o que levou a taxa de desocupação (percentual de desemprego) para menos de 8% na média do ano, com base em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que não acontecia há muito tempo. A tais fatores se somou o aumento nos preços dos alimentos, o que obrigou o setor a elevar os preços acima do nível do IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo), como se pode aferir pela Cesta Abrasmercado, que calcula o preço médio praticado pelas lojas do setor entre os produtos com maior volume de vendas e que em 2008 somou mais de 12%.
Pulverização
Diferentemente do que muitos querem fazer supor, o mercado brasileiro de autosserviço ainda é e deverá ser por muito tempo pulverizado. Se em países da Europa o nível de concentração entre as quatro maiores supera 60%, é o caso da França (63%), da Holanda (66%) e da Espanha (62%), no Brasil, entre as cinco maiores companhias, esse percentual fica em 41%, sendo 38% compreendidos pelas três primeiras colocadas do Ranking.
Por sinal, como se pode averiguar no gráfico, entre as três maiores empresas do setor se verificou redução de um ponto percentual na participação, já que em 2007 essas companhias respondiam por 39% do mercado. Isso porque, no ano retrasado, o setor registrou um dos maiores aumentos no nível de concentração do mercado de autosserviço brasileiro, já que os Grupos Carrefour e Pão de Açúcar compraram empresas atacadistas de peso (Atacadão e Assai, respectivamente) e trouxeram seus faturamentos para o Ranking Abras, o que injetou bons milhões à receita das duas empresas e elevou a participação das três maiores de 34% do mercado em 2006 para 39% em 2007.
No ano passado, em contrapartida, embora a expansão orgânica das três primeiras tenha sido significativa, o desempenho das demais 47 que completam o grupo das 50 maiores foi proporcionalmente superior, embora de forma tímida, já que nesse espectro de companhias o nível de concentração não cresceu em relação a 2007, mas manteve o mesmo patamar de 58% do mercado.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
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