segunda-feira, 8 de junho de 2009

Wal-Mart usa a crise para ampliar fatia de mercado

Fonte: Folha de SP - 08/06/2009

No primeiro trimestre, empresa manteve ganhos no mesmo patamar de 2008

Varejista, que criou 63 mil vagas em 2008, é criticada por baixos salários; especialista diz que isso ocorre mais por questão de poder que de lucro

Nunca houve uma época melhor para economizar. Adaptando seu slogan aos tempos atuais, quando os consumidores passaram a analisar os gastos com mais parcimônia, o Wal-Mart tenta aproveitar a crise para conquistar ainda mais espaço no mercado varejista, no qual já é líder mundial.

No encontro anual que aconteceu na semana passada na sede, no Arkansas (EUA), essa era a mensagem que a companhia queria incutir em acionistas e funcionários. No primeiro trimestre, o Wal-Mart repetiu o lucro obtido no mesmo período do ano passado (US$ 3 bilhões), e o desafio é manter a equipe motivada e convencer os clientes de que estão fazendo sempre o melhor negócio.

"Esses são os tempos para os quais Sam Walton construiu esta companhia", disse Mike Duke, presidente do Wal-Mart desde fevereiro, a mais de 16 mil pessoas presentes na reunião com acionistas na Bud Walton Arena, na Universidade do Arkansas. O evento, que mescla shows e informações financeiras da empresa, contou com o ator Ben Stiller como mestre de cerimônias e o vencedor do "American Idol" Kris Allen como atração musical.

A palavra de ordem foi "oportunidade". "Nossos clientes vão permanecer conosco quando a economia se recuperar e tiverem mais dinheiro para gastar.

Estamos construindo lealdade de longo prazo", disse Duke. No encontro com empregados de todo o mundo, muitos da base da pirâmide, a ideia era mostrar o quanto é importante ter um bom desempenho para aumentar as vendas e ser promovido. "Por que escolher não ser especial?", questionou Lee Scott, que comandou a empresa até janeiro, no evento que pela primeira vez foi aberto à imprensa e no qual são mostradas histórias de ascensão.

Na reunião com acionistas, para a qual os funcionários também foram convidados, o recado foi dado pelo ex-jogador Michael Jordan, recrutado pelo Wal-Mart para lembrar o quanto é importante trabalhar em equipe para ter sucesso.

No Brasil, onde ocupa a terceira posição no ranking do varejo, a meta é investir R$ 1,6 bilhão neste ano, o que inclui a abertura de 90 lojas -para se somar às mais de 340 que já existem-, com expansão focada nas bandeiras Todo Dia e Maxxi, direcionadas ao público de baixa renda. No primeiro trimestre, ante igual período de 2008, a companhia teve expansão de 7,6% nas vendas -acima da média de 6,8% nas operações internacionais.

O presidente do Wal-Mart Brasil, Héctor Núñez, destacou o bom resultado do comércio eletrônico, iniciado em outubro. "Estamos mais de 18 meses à frente do plano", disse, referindo-se às metas de lucro do site, mas sem revelar números.

Ao todo, as operações internacionais englobam 15 países, incluindo, desde janeiro, o Chile, com a compra da D&S, maior varejista de alimentos do país. Em 2008, as vendas fora dos EUA representaram cerca de 25% do faturamento.

Doug McMillon, presidente da divisão internacional, desconversou sobre a possibilidade de novas aquisições no Brasil. "Nosso alvo é ser o melhor", resumiu, respondendo à pergunta sobre a busca pela liderança no mercado nacional.

Para o consultor especializado em varejo Alberto Serrentino, da GS&MD, "o crescimento consistente da operação no país vem permitindo uma maior proximidade com o posicionamento e as políticas da empresa nos EUA". Presidente das operações na América Latina a partir de julho, Vicente Trius diz que, "do ponto de vista de crescimento, o Brasil é o que oferece as melhores oportunidades de futuro" na região.

Alvo constante de críticas dos sindicatos de trabalhadores devido aos salários e benefícios oferecidos aos funcionários, a companhia anunciou que espera criar 22 mil vagas neste ano nos EUA, que registra a maior taxa de desemprego (9,4%) desde agosto de 1983. Em 2008, foram 63 mil novos postos (33 mil no mercado americano).

"A hostilidade do Wal-Mart a uma força de trabalho mais bem paga é mais uma questão de poder do que de preço e lucro", diz Nelson Lichtenstein, professor de história da Universidade da Califórnia (EUA), que adiantou à Folha trechos do livro que será lançado em julho: "The Retail Revolution: How Wal-Mart Created a Brave New World of Business" (A revolução no varejo: como o Wal-Mart criou um admirável mundo novo nos negócios).

"Salários altos reduzem a rotatividade de pessoal e despertam as expectativas dos funcionários, transformando a cultura interna do local de trabalho.
Salários decentes levam a carreiras reais e à expectativa por um tratamento justo", avalia.

Ele mesmo admite, no entanto, que a "culpa" pela agressiva política em busca do menor preço não é só da gigante varejista. "Se os americanos não fossem tão dedicados a seus importados baratos, tão egoístas em adquirir coisas em lojas que exploram trabalhadores e arruinam a vizinhança, estaríamos dispostos a pagar o preço ou mudar nosso estilo de vida para reformar o sistema."

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